Acontece
que cansou ver gente falando mal da greve e dizendo que quer aula, que não quer
estudar no natal e no carnaval. Pra começar, se estudar no natal, carnaval, Boi-Bumbá,
Paixão de Cristo, Pentecostes, Dias das Mães ou aniversário da MÃE (ops) é um
problema, acho melhor repensar a ideia de problema. Creio que haja algum problema
na formação (atenção a essa palavra)
desses indivíduos. É sério que essas datas são tão mais importantes que sua formação? Vocês acham realmente que quando
continuarem os estudos ou estiverem trabalhando terão tempo e mesmo paciência pra
isso?
Na
semana passada, na sala de um grupo de pesquisa, uma colega de curso perguntou
para todos na sala: “E aí, como foi o feriado?” (referindo-se quinta-feira, 4
de junho, Corpus Christi). Quase que instantaneamente eu e uma amiga
respondemos: “Que feriado?!”.
Não
é brincadeira e nem exagero. O feriado não existiu, estamos estudando como
loucos e desesperados. Muitas vezes eu mal sei em qual dia da semana estamos.
Ahhh, o Helder é todo ateu, punk, anticristo e bla blá blá. Ok...rs. A pessoa
que fez a pergunta é uma amiga muito religiosa, daquelas que conhecemos como
praticantes e fieis. Ela mesma confirmou que também faz tempo que não sabe o
que são feriados. Fizemos uma escolha: estudar e nos formar. Formar significa
adquirir formação. Formar não é
colar grau e nem pegar diploma. Afinal, educação superior e pós-graduação não são
obrigatórias que nem a educação básica. Escolhemos isso e foi muito difícil passar
nos exames de admissão da faculdade e do mestrado. Lutamos tanto pra esquecer
isso por qualquer feriado? [Usei a mesma
palavra três vezes no mesmo parágrafo de propósito!].
Há
mais de um ano me mudei pra Manaus por conta do mestrado. Não estive presente
com minha família nas datas acima citadas (a maioria nunca me importou). Dia
das mães e dos pais e o aniversários dos respectivos, esses sim muito me
importam. Não presenciei. Meus pais? Compreenderam até mais do que eu. A falta que
eles fazem é grande.
Em
2013 e 2014 meu aniversário caiu na data do Intercom Norte, importante evento
da área de comunicação. Mas eu fiz uma escolha: Escolhi me formar. De quebra, fiz amigos maravilhosos. Estudantes e profissionais
dos estados da região norte (isso apenas na etapa norte do evento), que hoje
fazem o possível para que possamos nos encontrar e que com toda certeza, no
futuro, serão parceiros nas atividades cientificas e profissionais.
Pra
concluir e não finalizar. Reflitam. Alguns feriados valem mais que a formação? Você é uma pessoa em sala de
aula e outra no feriado? Tem algum problema nessa história. Não que devamos
esquecer o feriado e as diversões. Mas há uma situação muito crítica no mundo,
no Brasil e nas universidades e creio que isso seja mais importante que um
natal ou carnaval livre.
Em 2012
Em
2012 houve uma greve da qual a maioria lembra. Na época eu era aluno de
graduação. Em Parintins os alunos não conseguiram se mobilizar efetivamente.
Alguns colaboraram como podiam e ajudaram professores e técnicos na maior
paralização das universidades brasileiras, com adesão de 95% das Universidades
e Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia.
Eu
sabia e via cotidianamente que as condições de trabalhos nas universidades eram
(e ainda são hoje) muito ruins. Mas, só sabia isso. Resolvi junto com alguns
amigos e outras pessoas (que se tornaram grandes amigos por causa da greve) me
aproximar do comando local e participar das reuniões. Afinal, eu não iria pra
casa ficar bestando ou acompanhar tudo pela TV.
Descobri
que os professores e técnicos tinham um plano de carreira ruim. Não recebiam reajustes
acima da inflação há algum tempo (coisa básica, obrigatória). Descobri o que é
esse tal de REUNI que muita gente fala. Ele criou o curso de Artes Visuais (na
época Artes Plásticas) em Parintins. O curso começou com o professor de
fotografia, do colegiado de jornalismo; O professor de teoria e ética, também
do colegiado de jornalismo, que por um tremendo acaso estava cursando doutorado
em sociologia e estudava estética; e a professora de língua portuguesa,
transversal. É difícil de crer né? E se eu falar que até hoje esse curso não
tem nenhuma estrutura própria? Desde aquela época a Ufam de Parintins ganhou um
novo complexo, com três prédios de dois andares cada. Nada do bloco de artes,
que ainda é um sonho para os alunos, técnicos e professores.
Descobri
que a Dilma é “malvada” (mentira, eu já sabia! Percebi que o problema é muito
maior). Conheci MUITO da realidade política, econômica, educacional e social do
Brasil. Conheci a Ufam. Sem falsa modéstia, hoje sei da estrutura
organizacional e política dela, conheço algumas resoluções e trâmites internos
mais que muitos professores técnicos. Muita coisa ficou clara pra mim.
Percebi
que apesar de todas as dificuldades que a universidade Brasileira e
latino-americana passam, ainda assim elas são exemplos de instituições que
realmente agem e transformam a sociedade – outra hora cito as inúmeras ações
que fizemos, apenas em Parintins.
Percebi
que a Ufam é um só um peixe em um rio tão grande quanto o Amazonas. Sobre esse
contexto, vale a pena o texto do professor Sergio Lessa, disponível aqui. O
texto é de 1998, mas como é atual.
Desculpem-me
a falta de modéstia, mas a minha formação foi muito melhor que a dos alunos que
não participaram ativamente da greve ou mesmo não passaram por uma. Aprendi
coisas que todo jornalista (minha graduação) deveria saber. Tudo que não havia
na minha grade curricular, economia, história, economia-política da mídia, a
perversa política partidária etc. Eu aprendi coisas que só se aprendem na vida.
A greve teve muitos ganhos, aprendemos com isso. Mas tivemos derrotas e cada
vez que tocamos no assunto, eu sinto a tristeza e gosto amargo dos golpes que
um governo e um sistema perverso podem armar, inclusive, inúmeras ações inconstitucionais,
como a criação de um sindicato aparelhado e feito por pessoas do próprio governo.
Como
jornalista, fiz coisas que desde então nunca fiz. Escrevi matérias, releases, fizemos comunicação
estratégica, mailing, clipping e avaliação de impacto e
alcance de nossa comunicação. Vi pessoas e grupos criarem interesse em certos
temas, ações e problemas em função de nossas informações e atividades. Estudei
muito pra escrever sobre a carreira docente, orçamento e sua aplicação na
educação. Sistemas educacionais e seus prós e contras. Tudo isso, sem um único
dia de aula. Sem a obrigação de fazer relatório, entregar trabalho ou “pegar
presença”. Ainda assim, se nada disso desse certo, eu ainda seria uma pessoa
muito melhor.
Sobre o Icsez
Não
é novidade que fiz minha graduação na Ufam de Parintins, o Instituto de
Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (Icsez). Por isso, até hoje, conheço
melhor o contexto de lá. Desde já, desculpem não citar todos os cursos.
Meus
amigos estudantes de jornalismo. Há uma greve em curso. A comunicação e o
jornalismo são armas e serão usadas das formas mais promiscuas possíveis. É
nossa obrigação conhecer a realidade que nos cerca e contra-atacar.
Amigos
estudantes de pedagogia e educação física. Educação não é apenas em sala de
aula. É muito mais que a sala de aula. Agir é também é educar, seja o outro ou
nós mesmos. “Ser professor e não lutar é uma contradição pedagógica”, disse Paulo
Freire.
Amigos
das Artes Visuais. Filmes, pinturas, esculturas, performances e etc, muitas
vezes explicam mais coisas e de forma mais clara que muitas teses. Todos sentimos
dor pelos cortes na educação e pela precarização da educação. Ajudem a pessoas
a ficar uma noite sem dormir pensando nisso.
Amigos
do Serviço Social. Em cada aula, tenho certeza que é perceptível o quando a
profissão de vocês terá cada vez mais trabalho. Vocês devem notar que as
contradições estão postas e precisam ser superadas.
E
por fim, aos alunos de administração. Cerca de 9 bilhões foram retirados apenas
da educação. A inflação está alta. Há problemas de gestão em todas as esferas e
nos três poderes. Não é possível que isso não cause alguma indignação em vocês,
além de vontade de conhecer a fundo e discutir como melhorar esse cenário.
Gente,
para que vocês querem aula nesse momento? Vocês tem uma oportunidade única de
mostrar porque estudam e porque vale a pena o investimento em vocês. Se
realmente acham que a greve não vale de nada e que não há como ter aprendizado
e formação nesse momento, me
desculpem! Mas parece que esse corte de 9 bilhões foi feito porque investir na
educação não está valendo a pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário